domingo, 20 de maio de 2012

Atividade 5 - Ameaças à Geodiversidade e Estratégias de Geoconservação

Foto 1: Monumento Natural da Pedreira do Campo - Parque Natural de Santa Maria (foto Joana Tavares).
 
Quando olhamos ao nosso redor encontramos diversas formas e relevos que constituem o nosso o meio de sustentação de vida.
A partir  de pouco mais de uma centena de elementos químicos, a Terra, ao longo dos seus 4600 milhões de anos, gerou cerca de 3500 espécies minerais que dão origem a centenas de rochas diferentes. Estas rochas constituem o substrato para o desenvolvimento de uma espantosa variedade de seres vivos, dando origem à biodiversidade que conhecemos hoje [1].

Como vimos já em actividades anteriores quando nos referimos à geodiversidade não só estamos a referir ao substrato rochoso (minerais e rochas) mas também fósseis, solo, sendo esta geodiversidade o substrato para o desenvolvimento dos organismos e causas da sua evolução. 

Em um olhar mais descuidado, o aspecto robusto da maior parte das rochas confere aos objectos geológicos uma aparência de durabilidade e de resistência, no entanto alguns destes recursos são frágeis e mais susceptíveis à acção humana [2]. 
Os recursos minerais, à semelhança dos recursos energéticos, são considerados renováveis no entanto a sua exploração maciça não os tornam renováveis na óptica da vida humana. 

Com o aumento demográfico e da necessidade de construções de novas infraestruturas, os recursos minerais têm sido gravemente afectados em prol do bem estar humano, no este recurso poderá ser afectado por acções de ordem natural como os sismos e erosão costeira

Segundo Brilha (2005) a maior parte das ameaças à geodiversiadde advém, directa ou indirectamente da actividade humana, em diversas escalas e graus distintos.

Para este autor as ameças à geodiversidade podem ser numeradas da mesma forma que numeramos os valores da geodiversidade na actividade anterior. 
Assim as ameaças podem ser: 


- Exploração de Recursos Geológicos


Figura 2: Pedreira localizada entre Alandroal e Borba [3].


As atividades que se encontram relacionadas com a exploração de recursos minerais levam à consequente destruição de componentes de geodiversidades para utilização antropogénica. Esta ameaça pode ocorrer ao nível da paisagem, uma vez que a exploração causa impactes negativos na paisagem circundante. 
Pode também ser classificada ao nível do afloramento, no sentido em que a exploração pode ter como alvo de extracção importantes recursos geológicos como fósseis ou estruturas rochosas com valor, como é o caso de cones de escória do Poço da Pedreira na ilha de Santa Maria. 





Este cone de escória foi utilizado durante anos, como fonte de exploração de inertes, nomeadamente da designada "Pedra de Cantaria" tradicionalmente utilizada nas habitações de traça tradicional, na ilha.
- Desenvolvimento de obras e estruturas 
O aumento demográfico, como já referido anteriormente, é uma das principais causa de exploração com destruição de recursos minerais, no sentido em que origina a necessidade de construção de infraestruturas como estradas, barragens, grandes edifícios, que levam à destruição de geodiversidade.

- Gestão das bacias hidrográficas
A gestão das bacias hidrográficas, nomeadamente a sua normalização de caudais com a construção de barragens, origina a alteração profunda nos cursos de água, com impacte na biodiversidade adjacente.
- Florestação, desflorestação e agricultura
o coberto vegetal pode ocultar a geodiversidade importante do ponto de vista científico e didáctico. A desflorestação por sua vez promove a erosão dos solos, sendo que a agricultura poderá assumir também um importante papel na erosão e na contaminação dos solos. 
- Actividades militares 
o uso da maquinaria pesada e de bombardeamento poderá levar à destruição da geodiversidade, com impacte negativo na qualidade dos solos e das águas superficiais e subterrâneas. 
- Actividades recreativas e turísticas.
o aumento das actividades desenvolvidas ao ar livre coloca muitas das vezes a bio e a geodiversidade sobre pressão. 
- Colheitas de amostras geológicas para fins não científicos
De forma a se estudar e conhecer o património natural são necessárias recolhas para fins laboratoriais, mas que das quais se esperam dados que permitam o aprofundar de conhecimentos sobre estes recursos. No entanto, são muitas as vezes que são removidas amostras do local para "souvenir", levando à destruição da geodiversidade sem fim direccionado. 
- Iliteracia cultural 
Estas últimas três ameaças são resultado do desconhecimento da população em geral. 

Como poderemos então minimizar estas ameaças acima referenciadas!?
Anteriormente já vimos que a geoconservação aponta para a preservação da diversidade natural com significado geológico, e ainda que a reconhece como a componente não viva do património natural é da mesma forma importante para que seja conservado [4]. 
Uma das estratégicas de geoconservação parte pela inventariação de geossítios. 

Mas o que é isto de Geossítio!  
Segundo [1] Geossítio pode ser definido como ocorrência de um ou mais elementos da geodiversidade bem delimitada geograficamente, com valor singular do ponto de vista científico, pedagógico, cultural e turístico.


Ou seja, são sítios de interesse geográfico que cumpram com o acima estipulado. 
No caso dos Açores e nomeadamente na Ilha de Santa Maria o levantamento dos geossítios de ilha foram elaborados pelo Departamento de Geociências da Universidade dos Açores, através do artigo cientifico de J.C. Nunes (2007) [5]
Após o levantamento dos 15 geossítios para Santa Maria, sendo eles de natureza vulcânica ou sedimentar, sendo estas últimas com a particularidade da existência de fósseis, foram escolhidos 5 Geossítios Prioritários, pelas suas importância geológica, didáctica e cultural.

Figura 3: Geossítios prioritários para a ilha de Santa Maria [6]

Após a inventariação dos geossítios de Santa Maria têm a particularidade de se 4 deles se encontrarem protegidos pela legislação do Parque Natural de Santa Maria:
- Barreiro da Faneca: Área de Paisagem Protegida;
- Pedreira do Campo : Monumento Natural (1º monumento natural dos Açores);
- Ponta do Castelo e Ribeira do Maloás: Área Protegida para Habitats e espécies 

Após o levantamentos dos referidos geossítios, foi elaborada uma candidatura da Região Autónoma dos Açores para que as ilhas fossem integradas em um só Geoparque: 
Geoparque Açores, 9 ilhas um geoparque. 

Assim, e dado o carácter arquipelágico dos Açores, o Geoparque Açores assenta numa rede de geossítios dispersos por nove ilhas e zona marinha envolvente, a) que garante a representatividade da geodiversidade que caracteriza o território açoriano, b) que traduz a sua história geológica e eruptiva, c) com estratégias de conservação e promoção comuns e d) baseada numa estrutura de gestão descentralizada e com apoio em todas as ilhas [5].

Os objectivos de um geoparque, e nomeadamente do geoparque Açores são :
- Conservação: preservação de geossítios, desenvolvendo métodos de geoconservação com intuito de proteger o património geológico para as gerações futuras.
- Educação: promover a educação em geociência, do público em geral e da comunidade estudantil, organizando actividades e providenciando apoio logístico na comunicação do conhecimento científico  dos conceitos ambientais. Deverá também, apoiar a investigação científica, estimulando o diálogo entre os geocientistas e as populações locais. 
- Desenvolvimento regional: estimulando a actividade económica e o desenvolvimento sustentável das populações da sua área de influência, potencializando o desenvolvimento socio-económico local através de uma imagem de excelência relacionada com o património geológico - geoturismo, artesanato.

Geossítio do Barreiro da Faneca - "Deserto Vermelho dos Açores" [7]

Bibliografia

[1] 
Geodiversidade - valores e usos. Publicação no âmbito do projecto "Identificação, caracterização e conservação do património geológico para Portugal" ( PTDC/CTE-GEX/64966/2006. Fundação para a Ciência e Tecnologia  

[2]Brilha, J. (2005). Património Geológico e Geoconservação: a conservação da natureza na sua vertente ecológica. Palimage Editores, Viseu, pp 190.

[3] 
Portugal a Pé. Disponível em http://portugalape.blogspot.pt/2008/09/blog-post_6178.html. Acedido a 19 de Maio de 2012.


[4] Sharples, C. (2002). Concepts and principles of Geoconservation - documento electrónico em pdf publicado no web site Tasmanian Parks & Wildlife Service Website. Disponibilizado pela docente no âmbito do módulo de biodiversidade, geodiversidade e conservação. Disponível em http://www.moodle.univ-ab.pt/moodle/mod/resource/view.php?id=2321771.  


[5]
Nunes, J. Lima,E. & Medeiros, S. (2007). Os Açores, ilhas de Geodiversidade Contributo da ilha de Santa Maria. Açoreana Sup.5. Sociedade Afonso Chaves. Ponta Delgada. pp74-111.

[6] Geoparque Açores. Disponível em  http://www.azoresgeopark.com. Acedido a 20 de Maio de 2012. 
[7] Siaram - Sentir e Interpretar o Ambiente dos Açores. Disponível em http://siaram.azores.gov.pt. Acedido a 20 de Maio de 2012.  





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